Tatue

Por baixo de sua pele estavam as tatuagens de todas pessoas que ele amou, apenas ao toque você poderia encontra-las. O problema é que conforme suas emoções iam aumentando as tatuagens iam aparecendo superficialmente e ele não sabia como controlar os desenhos que estavam impregnados não só na pele, mas na alma.

Que bom seria se as marcas deixadas pelas pessoas pudessem desaparecer sutilmente ou quem sabe poderíamos deixa-las ficar e conviver com elas, nos tornando mais fortes e mais equilibrados.

Ao respirar, a pele ao redor da tatuagem selecionada aleatoriamente pelo sensor emocional suava, se arrepiava, oscilava.

O tempo se passou e com as marcas ele ficou, ao longo da sua história elas iam indo mais a fundo, algumas se perdiam no esquecimento, outras se tornavam parte de camadas ao redor do seu esqueleto. E restou no final das contas, após muito tempo as marcas deixadas, palavras jogadas e sentimentos no vento.

Inverno gélido

Era apenas o inverno chegando, mas o calor dos nossos corpos unidos por um único desejo nos dava aconchego, tínhamos um lindo abrigo para nós. Mas eu, realmente não esperava que aquele dia fosse ser o último que tivéssemos nos olhado por horas, e que horas, equivaleram por dias.
Se cada vez que fossemos nos encontrar eu resolvesse te levar uma flor, eu demoraria mais meia hora atrás da mais linda do jardim. Acabei por me esquecer que tomamos rumos diferentes e tão distantes, pois não há nenhum dia que eu tente deixar de lado o que sentimos, embora sinta falta.
De todos os lugares o meu quarto se tornou o mais vazio, o mais gélido, o mais sombrio.
Se passaram mais quatro estações e eu continuo sem sorrir, não imagino mais a possibilidade de te encontrar novamente, sempre que penso nisso uma lágrima me escapa do olhar.
Por mais difícil que seja, o melhor é me isolar, manter-me com meu peito ardendo e a mente falecendo sem você perto de mim.
E o inverno chegou mais uma vez, o relógio se tornou meu inimigo e o tempo me deixa mais frio, predominando o vazio e minha alma gelada, sem o fogo no pavio.

Preciso de um abraço, um ombro amigo, um lugar seguro, um abrigo.

A música parou mas ela continuou a dançar
Em meio as estrelas, um sol na palma da mão
Figura cativante que encontrei nessa personalidade
Me deixou com mais vontade de continuar a tocar

Só o que entrava naquele quarto era a luz do sol
As paredes empurravam seus pulmões e o ansiavam
Quando tentava abrir a porta os sermões o mandavam à dentro
Ninguém me falou que seria fácil abrir um sorriso sincero.

Aquela terapia não durou mais do que 10 minutos
Sentei na cadeira e mirei a borboleta do outro lado da rua
Naquele bater de asas se foram metade dos meus minutos
E nos mesmos minutos um tufão atingiu o mundo

Se pôs a voar por entre os prédios e a perdi
A terapia me restou, mas cansei de pensar
Se por um momento o vento soprasse ela de volta
Em algum lugar eu a poderia encontrar

Acho que não vai mais voltar, nem mesmo a terapia
Eu abri o vidro da janela e me arrisquei a tentar
As asas eram o problema, sem elas eu não podia voar
Pulei do mesmo jeito embora a terapia quisesse me puxar

Se abriu a mente no mesmo lugar, a terapia ficou e começou a reclamar
A borboleta que podia voar, me roubou mais minutos
E um olhar atento no bater das asas me fez pensar
Que talvez o vento que batia no rosto, poderia mudar o meu jeito de pensar.

Entre milhões

Sentado naquele mesmo banco dando voltas com a mente, parece tudo sempre estático no mesmo lugar, e eu fico a esperar alguém para chamar, mas não ela, porque eu sei que ela nunca vai voltar.
O céu se fecha, o tempo fica nublado e com um cinza caos. Quando volto a caminhar olho fixamente para frente o que está para trás não me interessa mais, entro naquele café com uns trocados no bolso, pego meu expresso de sempre e caio em pensamentos constantes, não seria diferente desta vez.
Eu não mudaria por ninguém, mas por você eu poderia mexer no meu sistema, arrancar os meus emblemas e então lhe daria a mão para seguirmos qualquer direção.